sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Centenário de Elvira Paim - 4ª Parte (Final)

Resgatando o Passado Serrano

Por José Carlos S. da Fonseca

Centenário de Elvira Paim
(4ª parte- Final)
No livro: “Elvira – Esboço da vida virtuosa duma jovem gaúcha” conecta o nosso município de São Francisco de Paula e sua sede com a história desta moça que nas primeiras décadas do século XX era lembrada por ser muito diferenciada das demais pessoas:
“Elvira passava os meses de férias em piedosas ocupações e esforçava-se, cada vez mais, para por em pratica os bons conselhos e exemplos que aprendera em “seu Colégio”, como dizia alegremente. Muitas vezes contava a família reunida as pequenas dificuldades que tivera de vencer, durante os primeiros meses de internato. Espírito apostólico, procurava transmitir às irmãzinhas os conhecimentos adquiridos em matéria de religião, e assim improvisava-se catequista.
Nas férias de 1927, para satisfazer seus grande desejo de causar alegria aos outros, planejou e tornou realidade, com êxito, uma festinha para comemorar o Natal de Nosso Senhor. Nas férias de 1928 e 1929, acompanhou os pais à vila de São Francisco de Paula; aí deixou perfume do bom exemplo e piedade profunda. Assistia a Santa Missa muitas vezes durante a semana e conseguiu com carinho e rogos que o pai a acompanhasse aos domingos à igreja. Pertencia ao coral e cantava com todo o entusiasmo os louvores a Deus. A atitude respeitosa que mantinha no coro dizia bem do espírito de fé de que era animada. Muito alegre, gostava de divertir-se e alegrar os outros, mas não era fora do lar que ia buscar motivos de distração. A orientação que recebia dos pais, contribuía eficazmente para que não se apegasse às coisas do mundo. Uma só vez o pai a levou no cinema, depois de se ter certificado que o filme era conveniente.
Em 1930, Elvira deveria deixar o colégio definitivamente. Outros, porém, eram os desígnios da Divina Providência. Com a equiparação do Colégio à Escola Complementar Oficial teria oportunidade de frequentá-la ainda por três anos. Preparou-se cuidadosamente para o exame de admissão. No exame obteve boa classificação. Em 1931 e 1932 teve de submeter-se a tratamento médico e durante todas as férias obrigaram-na a permanecer em repouso. Ainda assim, impossibilitada de ação, suas mãos não deixavam ficar na ociosidade: pintava e modelava pequenos cromos para causar alegria às boas irmãs. Com paciência inesgotável, colecionava insetos para o Museu do Colégio, classificando-os cuidadosamente.
Tendo obtido permissão do médico para continuar os estudos, contente e agradecida ao Nosso Senhor partiu para o Colégio, mas, em meados do mês de junho viu-se forçada a interrompê-los. Sua fisionomia serena não deixou revelar a intensidade do sacrifício que Nosso Senhor exigia. Voltou ainda este ano ao Colégio para assistir à colação de grau da primeira turma de alunas-mestras. A dor que Elvira experimentou foi grande, a violência da comoção provocou-lhe lágrimas. Mas nenhuma queixa desprendeu-se de seus lábios. Aprendera de Nosso Senhor o segredo do sacrifício heróico e silencioso. As palavras do Divino Salvador: “Venho para fazer a Vontade de meu Pai.” haviam encontrado eco naquele coração puro e generoso.
Ainda no Colégio, sentiu Elvira, surgirem as primeiras tendências místicas que orientariam, mais tarde, sua ascensão para o Alto. Em sorrisos ocultava o cansaço e a fadiga que a assaltavam constantemente. Como era natural ao seu temperamento ardente, entregava-se com paixão a tudo que empreendia.  Em 1934 e 1935, com verdadeiro encantamento, preparou uma turma de crianças para a primeira Santa Comunhão. Elvira se adiantava cada vez mais no caminho da perfeição. Julgando as coisas e as suas criaturas à luz de Deus, a renuncia de seus desejos e de sua vontade se impõe ao seu coração sedento de felicidade. A maior graça que Deus pode conceder a uma criatura não é dar-lhe muito, mas pedir-lhe muito. Embora não pudesse freqüentar a igreja como desejava, continuava sempre a trabalhar em prol das almas.
Elvira não excluía os pobrezinhos de seu afeto. Dizia ela: “-Não olhemos para os pobrezinhos com desprezo ou indiferença e sim com afeto e compaixão. É o próprio Jesus que vemos na pessoa do mendigo e isto nos basta para enobrecer os sentimentos ao recebermos um pobre. Oh! Um coração generoso e grande não deixa este amigo de Jesus partir desconsolado! Porque não é só de pão de que ele necessita, mas da nossa afeição e benevolência. Que exemplos belíssimos deu Jesus escolhendo para seus discípulos e amigos os pobrezinhos e humildes! Ainda mais, Ele, o Rei supremo do Universo, padeceu frio e não teve onde reclinar suas delicada cabecinha a não ser duras palhas, para consolar os pobres e aflitos. E sua mãe querida, quanto não sofreu por não ter para dar a seu estremecido Jesus, senão amor e carinho! Quanto o pobre sofre! Não tem um teto para se abrigar! Poderemos passar sem olhar? Não! Nossa alma exclama: - Como podes alegrar-te, se teus irmãos sofrem? Se nada tivermos para dar, temos a Deus, nosso maior tesouro. Mostremos a esses infelizes que existe alguém que os ama: Jesus.” Era a grande preocupação de Elvira, minorar os sofrimentos dos pobres.
Coincidência singular! A três de outubro, dia em que a Santa Igreja comemora a entrada da Santa Terezinha na Pátria celeste, Elvira assistiu pela última vez a Santa Missa. Ao voltar da igreja, sentou-se, alegremente, ao piano, e fez-se ouvir pela última vez. No dia 8, ardendo em febre, recostou-se à cama de sua boa mãe e contou-lhe, detalhadamente, a vida de Santa Rita. Ao referir-se aos padecimentos daquela serva de Deus, comoveu-se até as lágrimas. Elvira compreendera o que significava a dor na vida do cristão. Desde esse dia não mais abandonou o leito. Agravara a doença que depauperava seu organismo. E não cansava de pedir: “-Rezem bastante pro mim”. A serenidade com que suportou, durante 32 dias, sofrimentos intensos, eram indícios seguro de que seu olhar já mergulhava nos abismos insondáveis da eternidade.
A uma prima que a acompanhara em seus sofrimentos durante diversas noites, disse: “-Eu estou aqui, mas já não sou daqui. Vamos rezar prima”. Às 9 horas e 10 minutos de 5 de novembro de 1937, na casa da sua família na cidade de Canoas, surge, enfim, a aurora do dia eterno para Elvira: aquela que soube ser grande, porque abriu a alma à harmonia e ao encanto da palavra divina. E agora, que canta a canção de sua eternidade, a leitura simples de sua vida simples, faça nascer em nós um entusiasmo novo e santo pelas almas. O seu exemplo de moça frágil, porém generosa e firme, diz, no silêncio de nossa alma: 

Cristão, irmão e irmã querida! Lembra-se da imortalidade de tua alma criada para as harmonias eternas. Às contas serás chamado, também tu, um dia, por Deus. Guarda o tesouro que Nosso Senhor te deu: a fé. Ela orientar-te-á e guiar-te-á para os teus destinos na Eternidade”. (A autora). 


Na foto vemos Elvira Baptista Paim aos doze anos na sua Primeira Comunhão em 1924, acervo da família.

Jornal Integração nº 96, edição de 10 de fevereiro de 2012

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