quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Centenário de Elvira Paim - 1ª Parte

Resgatando o Passado Serrano

Por José Carlos S. da Fonseca

São Francisco de Paula teve o privilégio de conter entre seus moradores, nas primeiras décadas do século XX, uma figura diferenciada entre muitos e admirada pela sua inteligência. Filha exemplar duma família importante da região dos Campos de Cima da Serra, considerada por muitas gerações de serranos e de moradores do Vale do Sinos e da grande Porto Alegre como uma Santa entre reles mortais. A coluna resgata a história de Elvira Paim, que faria 100 anos neste dia 21 de janeiro de 2012.

Centenário de Elvira Paim
(1ª parte)

Em 21 de janeiro de 1912, nascia em Vacaria a menina Elvira Paim, filha de Carolina Dias Baptista e do Coronel Eliziário Paim Neto, este o último Intendente de São Francisco de Paula, cargo que exerceu de 21/04/1927 a 08/12/1930, quando eclodiu a Revolução de 1930, sendo que a partir daí o cargo de intendente deixou de existir e surgiu a denominação de prefeito. Eliziário e Carolina casaram-se em Curitibanos em 16/04/1911. Nove meses após, chegou a esse mundo a menina Elvira, porém, juntamente com ela sobrevinha uma grave doença, mas três meses depois, com o santo batismo, milagrosamente sumiam os sintomas desta doença rapidamente e logo se encontrava com plena saúde.

Elvira e seus pais vieram morar na Fazenda da Várzea e Morrinhos, em São Francisco de Paula, lá passando toda sua infância. Com sete meses de idade a esperta menina balbuciou a palavra “papá” e aos nove meses já ensaiava seus primeiros passinhos. Com quatro anos dava uma resposta a um jovem simplório que pretendia casar com uma moça rica e que esperaria ela crescer, e ela respondeu de pronto: “Não, Senhor, eu também quero casar com moço rico”. Com um ano e oito meses veio ao mundo a sua querida irmãzinha Cândida que casou-se com o Sr. Almiro da Rosa Teixeira, ilustre filho de “São Chico”. Elvira era a mais velha entre cincos irmãs e sempre foi de uma obediência exemplar.

Com 11 anos, em 10 de abril, no começo da Revolução de 1923, Elvira ouve seu pai, o qual sempre chamou de Naica, chamando o capataz Virgílio e disse: “Naica, já sei por que chamaste o Virgílio, é para buscar os cavalos da invernada e ires encontrar com o padrinho Firminio na Vacaria”. Eliziário surpreende-se na hora, pois não havia dito a ninguém sobre os seus projetos a respeito da revolução, percebendo que a filha havia feito uma previsão certa.

Elvira, além de ser intuitiva (também acertou a data de sua morte), era uma garotinha amável, comunicativa e de uma doçura irresistível, como bem diz o livro “Elvira – Esboço da vida virtuosa duma jovem gaúcha”, feito em homenagem a esta donzela considerada por muitos uma Santa, sendo que estou utilizando esta obra para trazer a você estes fatos. Com sete anos era uma mocinha, mas já possuía um quociente de inteligência (QI) bem acima do normal, inclusive interferindo em favor dos trabalhadores faltosos na fazenda do seu pai, sendo atendida imediatamente pelo coronel. Adorava cantar e possuía uma linda voz, como bem diz este texto do livro sobre ela: “Sempre disposta, meiga e expansiva, gostava muito de cantar, e sua vozinha argentina unia-se à encantadora alacridade das maninhas menores, convertendo assim o lar em um viveiro de pássaros que gorjeavam desde a manhã até a noite”.

Com onze anos, Elvira e Cândida partiram para estudar numa Escola Normal em Porto Alegre, mas, já no ano seguinte, os pais resolveram colocá-las no Colégio São José em Caxias do Sul. Foi nesta instituição que Elvira começou a conhecer os primeiros mistérios da santa religião e a “Jesus Hóstia”. Foi mais uma vez pessoa exemplar entre todas as alunas: pontualidade, concentração nos estudos e um comportamento impecável, sempre estando em primeiro lugar em todas as matérias. Em 1926, a adolescente Elvira ingressou no Colégio de Santa Catarina, em Hamburgo Velho, onde permaneceu até 1933, voltando para casa, em São Francisco de Paula, somente para ocasião das grandes festas. Uma de suas coleguinhas apontou numa frase: “Elvira será uma santa no mundo”.

Numa redação de português com tema livre, Elvira resolveu escrever sobre a virtude: “A virtude faz com que a pessoa, além de honrada e apreciada pelos homens, seja também agradável aos olhos de Deus. Não são as jóias, as pinturas e demais adornos que embelezam uma moça, mas sim a virtude. É ela como uma luz sobrenatural que se irradia e nos fascina, tornando bonito e expressivo um semblante, muitas vezes destituído de formosura natural”.


Elvira Paim em 1929 aos 17 anos de idade - Acervo da família.




Jornal Integração nº 93, edição de 20 de janeiro de 2012


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