sábado, 16 de junho de 2012

Discurso do Dr. Pompeu a Getúlio Vargas - (Completo)

Resgatando o Passado Serrano

Por José Carlos S. da Fonseca

Discurso do Dr. Pompeu a Getúlio Vargas

Quando tiver a oportunidade de ler algum dos discursos que o Dr. Pompeu Castello Costa proferiu ou ler um dos seus artigos, os quais poucos e bons jornais tiveram o privilégio de publicar, é interessante ter um dicionário de português à mão, pois naturalmente o Dr. Pompeu soltava as palavras como poucos, e algumas destas muitos não as conheciam, como no discurso que transcreverei nestas semanas, havendo, inclusive, uma em francês, “débâcle”, que significa: em ruínas. Além de tudo o Dr. Pompeu sempre demonstrou o seu amplo conhecimento da história mundial e da natureza humana.
A manchete do jornal Folha da Serra, de 30 de novembro de 1940, destaca: “Magnífico discurso pronunciado pelo talentoso acadêmico serrano Pompeu Costa, perante o Presidente Getúlio Vargas – Por ocasião da “Parada da Juventude”, na capital do Estado”. Na semana passada escrevi nesta coluna  que o Dr. Pompeu tinha feito o discurso em 1920 aos 20 anos, mas o correto é 1940, pois o então ilustre acadêmico havia nascido em 1920. 

“Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, chefe incontestável do povo brasileiro. Na Europa, quando o calendário marca o mês de maio, os rios precipitam-se das montanhas, e rasgando a terra, e formando as morainas, e contorcendo-se, como se distendessem os músculos enrijecidos pelo inverno, vão debruçar-se nas campinas que, languidamente, os acariciam.
As plantas mostram seus variáveis enfeites, o embrião rompe o invólucro que o atormentava, as flores ostentam as aveludadas pétalas, e as donzelas faceiras, murmurando preces de louvor, levam à Virgem grinaldas de rosas.
O mês de maio, naquele velho continente, é o mês da Ressurreição.
No Brasil, não era a natureza que dormia esperando sua primavera. Ela sempre foi linda e alegre, ela sempre inspirou ternuras aos poetas apaixonados. No Brasil, era a juventude quem permanecia estática. Esta juventude que, hoje, saúda seu Chefe; esta juventude que nada pede senão sacrifícios, porque é na luta que os homens fortificam o caráter; esta juventude que é o altar onde depositamos nossas orações, que é o símbolo de nossos sonhos, que, é a própria imagem da pátria procedida com fúria de iconoclasta, quebrando as tradições, zombando das autoridades, consumindo-se no encalço de glórias falazes, fumando o ópio do liberalismo vendido pelos traficantes da liberdade, pelos homens que não souberam interpretar o movimento do século XVIII que, na política, restringiu perigosamente as funções do executivo, e, na sociedade, substituiu a nobreza de sangue pela nobreza do dinheiro, pela burguesia que, nos tempos modernos, encontrará sua débâcle, talvez, com todos os ódios provocados, pagando pelos crimes que jamais na terra ficarão sem vingança. A Câmara, com a responsabilidade de legislar, ignorava seu verdadeiro papel na administração do país. Os moços, abandonados pelos de mais experiência, corrompiam-se aceitando idéias visionárias que tinham seus apóstolos nos despeitados e oportunistas.
A educação estava relegada a um plano secundário; só podiam estudar os representantes das classes abastadas.
Tudo isso desanimava a juventude, e falsos amigos já ouviam de nós lamentações de Jeremias.
Enganaram-se estes fariseus. A seiva de nossas esperanças revitalizou a árvore e, se nela ainda encontramos galhos carunchados, estamos certos de que ou eles entram na nova ordem estabelecida ou estarão fadados ao desaparecimento.
Que poder milagroso nos salvou?
Que gênio celeste nos deu coragem de sufocar velhos sistemas?
Que mão hercúlea conseguiu, novamente, arregimenta-nos?
Acaso precisarei eu vos responder?
Não. Já ouço o balbuciar de vossos lábios entusiastas. Foi o 10 de novembro de 1937. Foi esta constituição bendita que, adaptada às realidades brasileiras, formou, em nosso país, este ambiente de culto ao nacionalismo. Foi o Chefe Vargas que, com desassombro, proclamou esta Democracia Social. E, por isto, juventude de minha terra, falange briosa de vanguarda, eu te peço chamares o mês de novembro o mês da Ressurreição. Lá, ressuscitou a natureza; aqui ressuscitou a Raça.
A solenidade cívica que hoje assistimos ao ritmo febril da ginástica e ao som compassado dos hinos é muito mais do que pensamos, ela encontra suas origens no profundo das almas, ela reflete a mentalidade coletiva, ela harmoniza o pensamento moço com as diretrizes do Novo Estado.
Chefe Vargas, a juventude espera ansiosa sua organização e, do Mar Doce às plagas sulinas, ela, marchando unida ao proletariado e dirigida pelo Chefe que a Providência nos deu, será invencível, será as hélices que impelem os monstros de aço, será as fornalhas que fundem os metais, será a inteligência que devassa os segredos, será a paz que beneficia o mundo, será mais poderosa de que Sansão, personagem lendário da Bíblia, porque ele só tinha a força física, e nós conjugamos a matéria e o espírito. Moços, despertemos os companheiros que ainda repousam embalados pela descrença, rejeitemos tudo quanto pérfidas imaginações inventam para nos seduzir, riamos dos tentadores, e, na ocasião propícia, façamos com que eles sejam sufocados por suas diabólicas maquinações.
O Brasil não passa por uma época de opulência, estamos num período de transição, estamos regenerando os tecidos desfeitos pelas incoerências de certos devaneios da loucura liberal-democrática.
No presente, não devemos pensar no tinir convidativo das moedas ou nas delícias de uma ociosa existência. Todas as classes sociais, compenetradas da missão que lhes cabe, renunciaram aos prazeres supérfluos, evidenciando uma compreensão exata da gravidade do momento.
Juventude brasileira, não fugiremos a esta regra; sairemos do exclusivismo dos intelectuais; penetraremos no seio das massas; dedicaremos nossos labores aos problemas nacionais; formaremos uma sólida educação que nos sirva tanto à vida prática como aos deleites do espírito; agiremos dentro das bases do Estado Novo, não apenas numa aprovação tácita, mas numa luta contínua de adaptação cada vez maior; recordaremos, sobretudo, o apólogo das varas, cerrando fileiras em torno do Chefe Vargas, esquecendo rancores mesquinhos que, por ventura, grassarem em alguns corações, esquecendo tudo o que não for pelo Brasil. Amemos o Chefe, ele nos redimiu do pecado que cometem as gerações sem ideais, as gerações apáticas e traidoras, as gerações que são a mortalha de uma nacionalidade.
Juventude brasileira, tenhamos em alto valor todos os preceitos morais dos povos aguerridos, de tradições sublimes, que percorreram o caminho do extermínio pelo artificialismo dos adornos, pela voluptuosidade das sedas, pela licenciosidade dos costumes. Combatamos com prudência e moderação o cinema mal intencionado que, negando suas finalidades, sepulta o passado de nossa Raça, põe-lhe no cérebro venenos sutis atentando contra a unidade nacional, em vez de ser como disse o Chefe Vargas: “para a massa dos analfabetos, a disciplina pedagógica por excelência, e, para os letrados, admirável escola”.
Influenciemos a imprensa, majestosa revolucionária, que não sendo escrava, não tem o direito de perturbar a paz. Sabemos que, com poucas exceções, ela é manejada por mãos invisíveis, e, vindo ao mundo para semear boas idéias, tem sido, muitas vezes, fermento decadentista. Protejamos as vias de transportes controladas por brasileiros, nosso ouro não deve dourar a vida dos avarentos. Demos preferência aos produtos nacionais, assim não estaremos caindo no erro das autarquias econômicas, mas exercendo um direito natural dos povos. Cansamos! Já nos martiriza o internacionalismo do capital que, durante tanto tempo, comprimiu nosso corpo nos seus braços de polvo satânico e voraz.
Mas, para conseguir tudo o que desejamos, faz-se mister que batalhemos juntos, que tenhamos confiança ilimitada no Chefe, demonstrando – em todas nossas ações – a disciplina – a mais nobre e a mais respeitada virtude de uma Raça. Dentro da disciplina, elevaremos a inteligência; dentro da disciplina, o corpo será vigoroso para plantar a seara ou empunhar a baioneta.
Estejamos convictos de que somos uma poderosa arma do Brasil.
Aproveitemos as galas, o misticismo arrebatador desta hora e juremos fidelidade à nação, juremos fidelidade ao Chefe Vargas, juremos cumprir suas ordens que jamais serão contra os interesses dos brasileiros. Se esmorecer o ânimo, se fraquejarem as energias, peçamos a Deus que ponha em nossos peitos a coragem dos bandeirantes, os primeiros bravos que penetraram na mataria bruta; a coragem dos farroupilhas, não para pugnar pelos ideais da Província, mas para construir um Brasil que seja um país clássico do progresso, da fraternidade, da disciplina, da força e da cultura cristã do espírito.
Então venceremos o desespero de alguns segundos, e assim como o povo da França dizia referente aos soldados de Napoleão – Respeitai aquele herói, aquele é do exército do imperador; - também nós, quando formos velhos, quando a terra reclamar o corpo, quando as lágrimas da saudade banharem nossas faces, quando os olhos baços não divisarem o tremular de nossa flâmula, ouviremos a voz altaneira dos netos – Respeitai aquele ancião, respeitai-o porque ele é da Juventude Redentora.
E nesta frase tão simples, tão cheia de reconhecimento, estará toda a felicidade de nossa morte.” 


Observação:

Como a minha coluna não saiu na edição nº 112 (08/06/12) no Jornal Integração, resolvi por aqui no blog todo o discurso do Dr. Pompeu.


No Jornal Integração Campos de Cima da Serra, este discuro foi dividido em três partes que sairam respectivamente nas edições de números 110 (25/05/12); 111 (1º/06/12) e 113 (15/06/12)

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